quarta-feira, 27 de junho de 2007

Mulher

Ama-se somente uma mulher na vida. Esse amor geralmente nos é o primeiro, mas quando ocorre não somos ainda capazes de identificá-lo. (Todos os próximos não são de fato amor: tomam àquele como referência e dele jamais se desvencilham. Lhe são prolongamentos, desvios, tentativas, mas não têm nada de natural). Ocorre que o conduzimos como fosse inexpressivo, como se fosse o primeiro de muitos que se repetirão de forma muito mais intensa e viva, e por ele somos tapeados. Existem homens que durante o completo curso da vida sequer percebem a importância deste amor, o que lhes é aparentemente terrível. E existem outros que o percebem e o tomam como referência para toda tentativa de amar. Sobretudo, em um caso ou no outro, o homem jamais terá a mulher que lhe provocou seu único amor. É impossível. Felizes são aqueles que não chegam a provar do convívio com a amada, para que possam adivinhar na memória momentos felizes que jamais tiveram, mas que lhes servirão de consolo, qual uma esperança distante que mantém acessa a chama da vida, que ilumina o ânimo e faz pulsar o peito. Nada mais triste que renunciar ao conhecido e de guardar consigo o rancor da repulsão, motivos pelos quais jamais será feliz o homem que provou da mulher amada. É a visão roubada de alguém que, já conhecendo a luz, é carregado para a treva da escuridão. Aos dois casos somente resta um consolo: o de agourar, no pior dos dias, o sorriso da mulher que te arruinou a vida, e a certeza de que dela somente podes usar a lembrança.